31/01/2009

Cem por cento sentado

Prometi contar como aprendi a ficar sentado. Imagine só que eu já estava com 4 anos de idade e na família onde nasci ninguém ainda tinha se preocupado em me fazer sentar. Passei meus 4 primeiros anos deitado, e mesmo assim, só de costas.

Quando cheguei em meu novo lar minha nova família tinha outras prioridades, como me salvar de uma subnutrição que deixou minha vida por um fio, além das verminoses, doenças de pele, piolhos e tudo o que você puder imaginar existir como resultado de ignorância e maus tratos. Sentar só fui aprender depois de segurar meu chocalho.

No começo eu vomitava só de ficar numa nova posição. O jeito foi me acostumar, no colo e depois no carrinho de bebê com cadeirinha que compraram para mim. Mesmo no carrinho eu mais parecia um travesseiro sentado, caindo para um lado ou para o outro. Precisaram colocar uma cinta me amarrando no encosto.

Quando meus pais viram que não havia nada de errado com minha coluna, perceberam que o que eu tinha mesmo era medo daquela nova posição ou então malandragem de não querer sair da estabilidade horizontal. Então meu pai decidiu ir pelo caminho mais doloroso para mim e para ele. Em mim doía no corpo; nele doía no coração.

Ele me colocava sentado sobre o carpete da sala e imediatamente eu agarrava minhas orelhas em sinal de pavor e me jogava para trás com o corpo estirado. Parecia uma lâmina de aço que alguém entortava e queria voltar ao seu estado original. No começo meu pai me segurava para eu não me arrebentar, mas depois me colocava próximo à parede. Em minha "esticada" eu não conseguia ir muito longe e batia com as costas na parede.

Muito malandro, comecei a me jogar para os lados, só que meu pai, ao invés de me amparar com as mãos, decidiu me amparar com um bastãozinho de plástico. Aí eu ficava apoiado na ponta daquele bastãozinho, o que não era nada agradável para minhas costelas. Então me jogava para o outro lado, só pare encontrar outro bastãozinho me esperando.

Aprendi que me jogar para trás ou para os lados significava dor e foi assim que aprendi a ficar sentadinho. A lição que aprendi é que crianças especiais também precisam de disciplina, como qualquer outra criança. Alguns acham que basta falar, mas isso nem sempre resolve. Na vida aprendemos que existem limites e alguns são bem desagradáveis.

Há pessoas especiais que se tornaram incontroláveis porque foram deixadas para fazer sua própria vontade, geralmente com a desculpa de que gerar algum desconforto ou dor no aprendizado é falta de amor. A Bíblia ensina o contrário: "Porque o Senhor corrige o que ama, E açoita a qualquer que recebe por filho." Hebreus 12:6 "Não retires a disciplina da criança; pois se a fustigares com a vara, nem por isso morrerá." Provérbios 23:13.

Se um dia eu tiver um cachorrinho, vai se chamar Pavlov.

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