01/01/2009

Quero contar

Oi, meu nome é Pedro e este é meu diário. Bem, não tenho certeza do que vou escrever aqui, mas acho que serão reflexões de minha vida e experiência. Na verdade, não vou escrever coisa alguma. Papai fará isso. E nem vou estar sabendo o que está sendo escrito aqui pois será papai quem tentará adivinhar o que penso e o que eu escreveria.

Você não entendeu, não é mesmo? Tudo bem, eu explico. A questão é que sou uma pessoa especial. Não posso andar, falar ou enxergar, portanto não sou capaz de escrever ou expressar meus pensamentos. Vou contar a você mais sobre isto logo abaixo e também nos próximos dias.

Se você já leu a coluna à direita, já sabe um pouco de meus antecedentes. Enquanto eu estava naquela pobre condição, Deus estava fazendo Sua obra a uns 1.400 quilômetros de onde eu morava. Um homem, aquele que agora chamo de "papai", estava aproveitando seu horário de almoço caminhando no centro da cidade de São Paulo, quando uma garota se aproximou com uma revista em sua mão.

Ela deu a ele a revista, cujo título era "Visão", uma revista semanal de notícias que já não é publicada. Ela tentava vender a ele uma assinatura e ele estava por demais interessado na foto da capa para prestar atenção ao que a garota falava. A foto era de um pobre garotinho morando nas ruas. Seu rosto estava sujo e ele tinha nuvens de tristeza em seus olhos. Papai ficou tão impressionado que nem pensou duas vezes antes de assinar a revista.

Evidentemente ele se arrependeu disso mais tarde, principalmente por não gostar de gastar dinheiro desse modo. Ele sempre diz que leva um escorpião em seu bolso, só para evitar enfiar sua mão ali. Estávamos em 1986 e seus pensamentos o sacudiam como um temporal que se aproxima.

Quando papai chegou em casa naquela noite, seus pensamentos estavam uma verdadeira confusão. Havia aquela espécie de fogo queimando dentro de seu peito, do tipo que você sente quando parece que alguma coisa vai acontecer. Ele leu o artigo na revista com o coração apertado. Todos os rostos daquelas criancinhas, como fantasmas caminhando pelas ruas, o tocaram. Algo precisava ser feito, mas o quê?

Mamãe, quer dizer, aquela que viria a ser minha segunda mãe, sentiu que havia algo de errado, mas não perguntou. Passou-se um ou dois dias até papai conversar com ela sobre adotar uma criança. Ela disse que sempre teve esse pensamento em seu coração. Com dois filhos naturais, um menino de quatro anos de idade como eu e uma menina de seis, eles não tinham planos para outros filhos naturais. Mas a idéia de salvar alguém da vida nas ruas foi algo que começou a mexer com seus corações.

Creio que o que mais tocou papai foi a percepção de que neste mundo existe rejeição. Talvez você não tenha sido rejeitado por seus pais, mas eu fui. Todavia, mesmo assim, mesmo que minha mãe e meu pai, a quem nunca conheci, tenham me rejeitado ou abandonado, o Senhor iria tomar conta de mim e o fator determinante nisso era Sua compaixão. Os novos papai e mamãe que Ele estava preparando para mim eram pessoas como você. Não havia nada de especial neles além do fato de que Deus estava trabalhando atrás dos bastidores. Ele Se compadece de Sua criação rejeitada; Ele tem pena de nós.

As pessoas deste mundo vivem curiosas com o que estará acontecendo conosco e mostram grande interesse nas notícias e nos boatos, alguns chegam a ser como vampiros assistindo TV em busca dos mais recentes sofrimentos e horrores, mas não se moverão em compaixão. Todavia... "quando meu pai e minha mãe me desampararem, o Senhor me recolherá" (Salmo 27:10). Isto é maravilhoso! O Amável cuida do que não é amado. E Ele cuidaria de mim, como cuidou de verdade!



2 comentários:

Gisele Formiga disse...

Graças a Deus!

Gisele Formiga disse...

Graças a Deus!

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