30/11/2009

Dia da adocao

Você sabia que existe um Dia da Adoção? Dia 25 de maio é o dia oficial, mas todos os dias deviam ser dias de adoção. Acha complicado demais adotar alguém? Hummm... não é não, e vou vou explicar porquê.

Fui adotado por uma família que simplesmente quis me adotar. Simples assim? Bem, nem tanto. Foi um processo todo e você pode ler em detalhes no livro que minha irmã escreveu, "Uma luta pela vida", ou na forma de conta-gotas nas coisas que vou contando aqui.

Algumas pessoas têm trauma de terem sido adotadas. Eu não. Meus irmãos nasceram sem terem sido escolhidos por meus novos pais. Algo como um acidente, né? Mas não diz pra eles não, para não ficarem chateados. Aqui entre nós, eu fui escolhido!

É, alguém me quis antes mesmo de me conhecer. E com todos esses probleminhas de funcionamento que você vê em meu corpo. Mas não precisa adotar assim para adotar alguém. Você pode adotar parte do seu tempo para visitar alguém ou parte de sua renda também.

Há organizações que criaram até uma adoção em que você envia um valor mensal para manter uma criança ou ajudar em seus estudos. Outro dia meu pai viu isso em um filme muito engraçado chamado As Confissões de Schmidt, com Jack Nicholson. Ele adota uma criança na África e no final... Bem, você me odiaria se eu contasse o final!

O Maurício de Souza, pai da Mônica e do Cebolinha, também adotou algumas outras crianças na forma de personagens. Tem o André, que é um garotinho autista que você pode conhecer em um Gibi, e em alguns filminhos na Internet: "Quero que você conheça o André", "Oi, galoto", "Dentuça, golducha", "Pelgunta plo Andlé", "Querem brincar de Siga o Mestre?" e "Quaaase normal".

O mesmo Maurício ainda vai adotar outros personagens em suas estórias, como uma menina cega chamada Dorinha e um menino paraplégico chamado Paralaminha, em homenagem ao Herbert Vianna, dos Paralamas, que ficou paraplégico após um acidente com ultra-leve. Viu como tem muitas maneiras de você adotar alguém e até pessoas portadoras de deficiências? Agora a bola está com você.

15/11/2009

Receita para saltar montanhas

É só meu pai viajar e eu fico sem blogar. É que é ele quem escreve o que eu digo, ou melhor, o que ele acha que eu diria se pudesse. Como meus irmãos também são ocupados, o jeito é eu esperar papai voltar. Mas tudo bem, o importante é continuar este bate-papo com você. Mas tem que ser bem-humorado.

Alguém comentou outro dia que gostou da maneira bem-humorada como as dificuldades são tratadas aqui. Acho que tudo depende do ponto de vista. A vida é cheia de dificuldades, ninguém pode negar. Quando o Senhor Jesus esteve aqui ele deixou bem claro isto para aqueles que crêem nEle: "Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo." (Jo 16:33)

Então o jeito é confiar para ter paz. Alguns têm dificuldades mais evidentes como as minhas e as de meus amiguinhos da lista na coluna da direita. Outros têm problemas não tão evidentes, mas nem por isso menos importantes. Sabe quanta gente vive triste por aí, se drogando, se consumindo dia após dia? Pessoas que têm pernas, braços, olhos que vêem, ouvidos que ouvem, bocas que falam e um cérebro sem paralisia, mas que mesmo assim estão mais despedaçadas na alma do que muitos como eu o estão no corpo?

A diferença não está nas dificuldades, mas em se ter uma expectativa maior da vida, uma visão mais ampla, não limitada ao aqui e agora. O apóstolo São Paulo escreveu que "se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens." (1 Co 15:19) O que ele quis dizer é que tem muita gente triste por aí porque só pensa em Cristo para receber alguma vantagem para esta vida: saúde, dinheiro, casamento etc. Tratam Deus como se fosse um talismã para ganhar na loteria. Existe uma vida maior, muito maior, do que este breve pedacinho que a gente passa aqui.

Enxergar isso é entender que as coisas que passamos neste tempo que chamamos "hoje" são muito pequenas se comparadas com a eternidade e com as coisas maravilhosas que Deus reservou para aqueles que crêem. Entender isto é descobrir que o cérebro que hoje falha será perfeito um dia; a perna que hoje manca será capaz de saltar montanhas; as mãos que não pegam abraçarão o Salvador; e os olhos que não vêem, ouvidos que não ouvem e bocas que não falam, participarão um dia de um espetáculo sublime e sem igual: um coro celestial!

Oh! Como as hostes salvas, nas alturas,
Um coro santo entoam em louvor,
De Ti, Cordeiro, que em Tuas agruras,
Compraste um povo em silente dor.

Vozes ecoam num louvor crescente,
Que brotam de tão gratos corações,
Tu és o Tema eterno e envolvente,
Que nos livrou de tantas aflições.

“Digno é o Cordeiro”, vozes retumbantes,
Falam do sangue, puro, eficaz,
Que resgatou os pecadores dantes,
Dando-lhes gozo, salvação e paz.

Sublime é estarmos, ao coro celeste,
Já destinados por Teu bom favor,
Não fora a graça que suprema deste,
Nos restaria eternal pavor.

Com gratidão entoamos nosso canto
Com notas que Te louvam, Salvador,
Mas, fracas são, não mostram todo encanto
Do Teu imensurável dom de amor!

10/11/2009

Quero mais e' companhia

Puxa, como o tempo passa! A última vez que escrevi aqui foi a tanto tempo que já nem sei se tem alguém vindo aqui para ler. Você está aí? Então quero contar como andam as coisas por aqui. Lembra que eu ganhei uma babá?

Pois é, ela me mantém ocupado, mas fica comigo só na parte da tarde e à noite, quando meu pai ou meus irmãos precisam viajar. Quando ela chegou, meu pai levou minha poltrona, que ficava no escritório, bem ao lado da mesa dele, para o meu quarto. Assim eu posso ficar lá ouvindo música. Posso, mas nem sempre quero.

É que enquanto a babá não chega, eu quero mais é voltar para a poltrona ao lado de meu pai. Como ela não está mais lá, eu apareço no escritório engatinhando - é assim que me locomovo pelo apartamento - só para receber uma ordem de meu pai para voltar ao quarto ou ir para a sala. Adivinha se obedeço?

Eu quero mais é companhia, então meu pai desistiu de ficar me mandando embora e colocou outra poltrona igual bem no lugar da anterior, ao lado da mesa de trabalho. Ele coloca uma rádio de jazz via Internet com a caixa de som bem ao lado de meu ouvido e eu me delicio. Não quero outra vida. Só quando a babá chega é que vou fazer outras coisas e deixo meu pai em paz.

Na última semana meu pai viajou a semana inteirinha e não pude ficar ao lado dele e nem escrever nada neste blog, pois é ele quem escreve para mim. Fiquei com meus dois irmãos. Como minha irmã estuda em outra cidade e meu irmão idem, geralmente eles chegam à tarde ou à noite, então fico engatinhando pela casa toda, para desespero da dona Júlia, que cuida de tudo por aqui.

Agora meu pai já chegou e pudemos bater aquele papo. Quer dizer, só ele falou, né, e eu fiquei fazendo os Hum... Hum... que estou acostumado a fazer em meu próprio idioma. Isso mesmo, eu não sei falar, mas sei quando alguém conversa comigo e principalmente quando fala de mim. Aí eu fico todo manhoso. Ter alguns problemas até que me dá algumas vantagens, como ser paparicado.

05/11/2009

Meu professor foi um tigre

Você sabe mastigar? É fácil, né? Pelo menos é o que todo mundo pensa, mas você precisa aprender a mastigar antes de poder comer picanha, né? Nos meus primeiros quatro anos de vida ninguém me ensinou a mastigar.

Eu não podia imitar o que os outros faziam porque não enxergava a boca de quem comia. Lembre-se de que nasci com catarata e isso impediu a luz de entrar em meus olhos durante meus quatro primeiros anos. Além disso, só me deram alimentos líquidos, provavelmente uma mistura de farinha de mandioca, água e açúcar.

Por isso quando cheguei em meu novo lar eu sabia beber em copo, com alguém segurando o copo evidentemente, mas não era capaz nem de chupar, nem de mastigar. Devo ter esquecido minhas primeiras mamadas e alimento sólido nunca entrou em minha boca antes. Sabe qual foi o resultado disso?

Meus novos pais me alimentaram com papinha e quando tentaram colocar algo mais sólido como arroz cozido, eu vomitava. Segundo a médica, a sensibilidade em toda a minha boca devia ser a mesma que normalmente temos na garganta, por isso um grão de arroz em minha boca e um dedo em sua garganta faziam o mesmo efeito.

Minha nova mãe era muito persistente e achou que devia existir um jeito de me fazer mastigar. Mas não conseguia, nem na marra! O jeito foi apelar para a criatividade. Se o problema era sensibilidade, a idéia foi descobrir um jeito de distrair minha atenção para não ficar concentrada na boca. Tipo dar injeção em criança, sabe como é, você mostra um brinquedinho, faz caretas, diz que não vai doer... Só se for em quem aplica!

A solução foi colocar um sucrilho em minha boca. Vomitei. Outro sucrilho. Vomitei. Mais outro. Idem. E assim foi, uma manhã inteira até que ela colocou um sucrilho entre meus dentes e fechou meu maxilar. "Crac!". "Que barulho seria aquele?", pensei eu. Enquanto tentava descobrir, o sucrilho já tinha derretido e ela colocou outro e apertou meu maxilar outra vez. "Créc!" Depois outro: "Cric!". Mais um: "Croc!". E outro: "Cruc!" Depois começou de novo.

Logo eu estava adorando aquele "Crac! Créc! Cric! Croc! Cruc!". Uma sinfonia de dar água na boca. Foi assim que comecei a mastigar por conta própria e fui perdendo a sensibilidade exagerada que tinha na boca. Graças aos sucrilhos. Se a Kellog's quiser, posso ceder os direitos autorais da idéia. Acho que o Tony, aquele tigre que vem na caixa, vai adorar saber que foi meu professor de mastigação!

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