Quando éramos pequenos meu pai costumava brincar conosco de trava língua. Sabe como é, tipo "O rato roeu a roupa do rei de Roma" ou "Um tigre, dois tigres, três tigres". Tinha também uma difícil que meu avô ensinou, "Um ninho de mafagafos tinha três mafagafozinhos, quem desmafagafar o ninho será um grande desmafagafizador", mas nem me pergunte se mafagafo voa ou põe ovos.
Tinha também um que era em minha homenagem, ou ao menos eu achava assim: "Pedro é um preto de peito branco". É claro que este causa arrepios na turma do politicamente correto, mas não estou nem aí com gente que tem dificuldade para entender ou suportar brincadeiras, desses que dão azia em Sonrisal. Na verdade meu peito nunca foi branco ou preto, mas marrom, porque tenho sangue negro, branco e índio. E eu diria que o peito de meu pai nem branco é, mas marrom-claro de mamilos marrom-escuro, porque ele não é lá muito branco também não.
Meu pai tem avós paternos italianos da divisa com a Suíça, bem louros e brancos. Mas da parte de mãe ele descende de italianos do sul da Itália e de portugueses, duas regiões que ficaram séculos invadidas por mouros africanos. Só se você for muito ingênuo irá achar que aqueles africanos passavam as noites contando carneirinhos. Se você já entrou num restaurante árabe e reparou no tapete pendurado na parede, ou viu a capa do disco da Björk, raptar donzelas era um prato típico daquelas terras.
Meu pai ficou mais convencido ainda de suas origens mistas quando um médico, com o qual viajou para uma palestra, disse que uns oitenta porcento da população brasileira tem sangue negro. Nem os negros são totalmente negros, nem os brancos são totalmente brancos. Um pesquisador brasileiro descobriu que metade dos negros brasileiros pesquisados tinha herança branca em seus genes. É claro que tinha, porque o amor não tem cor e a paixão não tem fronteiras. Quem é que resiste a um pratão de arroz e feijão?
Junto com os trava língua meu pai às vezes incluía algumas rimas que aprendeu quando criança, tipo "Um, dois, feijão com arroz...", que ele até hoje canta para mim numa versão só minha, quando me agarra pelas axilas e me faz caminhar pela casa: "Um, dois, Pedrão com arroz; Três, quatro, Pedrão no prato; Cinco, seis, Pedrão inglês; Sete, oito, Pedrão e biscoito; Nove, dez, Pedrão e pastéis". Então que fique registrado que também tenho sangue britânico. "Cinco, seis, Pedrão inglês".
Hoje meu pai descobriu um site onde você coloca sua foto e ele diz se você é branco, preto, café com leite, sorvete de flocos, nata, creme, e até pistache, se estiver verde de ressaca. O endereço é www.kairos.com/you e o sistema deve ser tão preciso quanto o horóscopo do Chico, um jornalista que meu pai conheceu. Quando o astrólogo do grande jornal onde ele trabalhava pediu a conta, o editor colocou o Chico para escrever o horóscopo e para isso ele usava o conhecimento astrológico aprendido com os indianos que inventaram o número zero.
O Chico pegava frases de livros de auto-ajuda, biscoitos de restaurante chinês e cartões de gaveta de papagaio de realejo, e aí escolhia uma para o dia usando as palavras mágicas que tinha aprendido com os antigos astrólogos da Mesopotâmia: "Uni, duni, tê, salamê, minguê, um sorvete colorê, o escolhido foi você!". É bem provável que um dia você tenha saído de casa confiante com o que o horóscopo daquele dia prometia, sem saber que era um oráculo do Chico.
Para determinar sua etnia o site não usa o DNA, que em português é ADN e significa ácido desoxirribonucléico, mas o Joint Photographics Experts Group, também conhecido como JPEG ou JPG, que é o formato da foto. Então meu pai, que é muito curioso, decidiu descobrir a etnia do Michael Jackson e descobriu que ele era misto de branco, hispânico, asiático e outro, mas nada de negro. E você ainda acredita no que dizem os sites na Internet? Você ainda acredita no que eu digo no meu?
Tinha também um que era em minha homenagem, ou ao menos eu achava assim: "Pedro é um preto de peito branco". É claro que este causa arrepios na turma do politicamente correto, mas não estou nem aí com gente que tem dificuldade para entender ou suportar brincadeiras, desses que dão azia em Sonrisal. Na verdade meu peito nunca foi branco ou preto, mas marrom, porque tenho sangue negro, branco e índio. E eu diria que o peito de meu pai nem branco é, mas marrom-claro de mamilos marrom-escuro, porque ele não é lá muito branco também não.
Meu pai tem avós paternos italianos da divisa com a Suíça, bem louros e brancos. Mas da parte de mãe ele descende de italianos do sul da Itália e de portugueses, duas regiões que ficaram séculos invadidas por mouros africanos. Só se você for muito ingênuo irá achar que aqueles africanos passavam as noites contando carneirinhos. Se você já entrou num restaurante árabe e reparou no tapete pendurado na parede, ou viu a capa do disco da Björk, raptar donzelas era um prato típico daquelas terras.
Meu pai ficou mais convencido ainda de suas origens mistas quando um médico, com o qual viajou para uma palestra, disse que uns oitenta porcento da população brasileira tem sangue negro. Nem os negros são totalmente negros, nem os brancos são totalmente brancos. Um pesquisador brasileiro descobriu que metade dos negros brasileiros pesquisados tinha herança branca em seus genes. É claro que tinha, porque o amor não tem cor e a paixão não tem fronteiras. Quem é que resiste a um pratão de arroz e feijão?
O Chico pegava frases de livros de auto-ajuda, biscoitos de restaurante chinês e cartões de gaveta de papagaio de realejo, e aí escolhia uma para o dia usando as palavras mágicas que tinha aprendido com os antigos astrólogos da Mesopotâmia: "Uni, duni, tê, salamê, minguê, um sorvete colorê, o escolhido foi você!". É bem provável que um dia você tenha saído de casa confiante com o que o horóscopo daquele dia prometia, sem saber que era um oráculo do Chico.
Para determinar sua etnia o site não usa o DNA, que em português é ADN e significa ácido desoxirribonucléico, mas o Joint Photographics Experts Group, também conhecido como JPEG ou JPG, que é o formato da foto. Então meu pai, que é muito curioso, decidiu descobrir a etnia do Michael Jackson e descobriu que ele era misto de branco, hispânico, asiático e outro, mas nada de negro. E você ainda acredita no que dizem os sites na Internet? Você ainda acredita no que eu digo no meu?
Agora pense no quão tolas são as pessoas que querem julgar as outras pela cor da pele. Se a cor da pele justificasse discriminar e escravizar, você poderia sair pela rua colocando uma argola no pescoço de quem encontrasse com a pele numa tonalidade mais escura que a sua. Mas se você for bem branquinho, é melhor não fazer isso sob o sol do meio dia, pois duas horas mais tarde pode acaber escravo de alguém que saiu de casa levando uma sombrinha.
2 comentários:
Oi Pedrinho! Seu paizão além de ser um grande homem de Deus. Te ama muito. Q bença de Deus. Eu amei o arroz c/feijão preto.rsss. Bjs Pedrinho Elenir��
Amei Pedrão! Vocês são otimos. Formam uma dupla perfeita. Amo vocês! Estou quase chegando ao final dos contos....ops! Ao início...heeee! Comecei do final....kkkk. Mas não importa. Vou chegar até o fim...ficam com Deus!
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