Decidi dar uma palhinha aqui da nova edição do livro "Uma luta pela vida" escrito por minha irmã. O livro estava esgotado, mas agora apareceu de novo e pode ser comprado pela Internet. Se você ler o livro, nem vai precisar mais vir aqui para ler minha história... Estou brincando, claro!
Uma Luta Pela Vida
Lia Persona
O vôo 3805 proveniente de Brasília chegava no horário previsto e preparava-se para pousar. Do andar superior do aeroporto eu podia ver as luzes do avião se aproximando rapidamente. Com apenas seis anos de idade, esticava o quanto podia meu corpinho para enxergar melhor. Lembro-me de como as janelas do avião pareciam incrivelmente pequenas da distância onde eu me encontrava. Tive uma impressão ruim. Minha mente infantil tentava imaginar como seria possível alguém viajar dentro de um avião que parecia ser tão pequeno. Fiquei preocupada só de pensar no tamanho do irmão que meus pais diziam que eu estava prestes a ganhar. Seria do tamanho de minha boneca Barbie?
Senti um certo alívio quando o vi pela primeira vez alguns minutos mais tarde, saindo pelo portão de desembarque. Vinha nos braços de uma mulher que não me era estranha. Ela já tinha nos visitado em outras ocasiões, mas sua chegada nunca fora cercada de tanta expectativ. Maria parecia não precisar fazer muita força para manter aquele corpoinho franzino aninhado em seus braços. Se não fosse pela tosse constante, ele passaria desapercebido. Não pesava mais do que uma bolsa. Pequena.
Maria era a pessoa certa para trazer Pedro. Tinha uma experiência de vida bem peculiar. Adotara oito crianças, algumas com problemas de saúde. Tirou-o do local onde estava, cuidou dele o sufciente para aguentar uma viagem e o trouxe em segurança para nós.
Arregalei meus olhos o máximo que pude. Não queria perder um detalhe sequer daquele primeiro momento. Captei cada particularidade do corpo daquela criança que era passada para os braços da minha mãe. Ela não precisou carregá-lo nove meses antes de nascer. Estava carregando agora pela primeira vez. Um menino de quatro anos. Achei que ele não combinava com minha mãe. Não parecia ser seu filho.
Tudo era diferente nele. Diferente da aparência de meu irmão biológico Lucas e da minha. Seu cabelo volumoso, cacheado e escuro não se parecia em nada com os nossos poucos fios descorados e escorridos. Nem que eu ficasse um ano inteiro tomando sol não conseguiria ficar com a pele tão morena quanto a dele. Maria contou que ele era descendente de negros e índios. Imaginei seus avós caçando com arco e flecha como nos desenhos que eu pintava na escola no Dia do Índio.
Não tive tempo de prosseguir com minhas imaginações. Saímos rapidamente do aeroporto noite adentro andando em direção ao carro no estacionamento. Pedro precisava descansar. Cada vez que ouvia sua tosse, meu coração acelerava. Fiquei assustada com seu estado. Parecia estar muito doente.
Aquele momento ainda permanece em minha memória. Acalentado, embalado, com todo o cuidado, dia após dia, não por saudosismo ou melancolia. Simplesmente por carinho e respeito. Essas coisas a gente não esquece facilmente. Aquela noite mudou minha vida.
Na verdade, mudou a vida de toda minha família e também a vida daquele que chegou numa cegonha a jato. Chegou para ficar. Foi o dia em que um novo começo foi traçado e todo meu futuro mudou. Tomou um novo caminho, um novo rumo. Muito do que sou hoje devo àquilo que considero como uma das melhores experiências que já me ocorreu. Recebi de presente uma lição de vida real, que estaria sempre ali, bem diante de meus olhos e de onde iria tirar inspiração para cada dia, para todos os que meu futuro ainda me reserve.
(continua no livro...)
Compre no Clube de Autores
Senti um certo alívio quando o vi pela primeira vez alguns minutos mais tarde, saindo pelo portão de desembarque. Vinha nos braços de uma mulher que não me era estranha. Ela já tinha nos visitado em outras ocasiões, mas sua chegada nunca fora cercada de tanta expectativ. Maria parecia não precisar fazer muita força para manter aquele corpoinho franzino aninhado em seus braços. Se não fosse pela tosse constante, ele passaria desapercebido. Não pesava mais do que uma bolsa. Pequena.
Maria era a pessoa certa para trazer Pedro. Tinha uma experiência de vida bem peculiar. Adotara oito crianças, algumas com problemas de saúde. Tirou-o do local onde estava, cuidou dele o sufciente para aguentar uma viagem e o trouxe em segurança para nós.
Arregalei meus olhos o máximo que pude. Não queria perder um detalhe sequer daquele primeiro momento. Captei cada particularidade do corpo daquela criança que era passada para os braços da minha mãe. Ela não precisou carregá-lo nove meses antes de nascer. Estava carregando agora pela primeira vez. Um menino de quatro anos. Achei que ele não combinava com minha mãe. Não parecia ser seu filho.
Tudo era diferente nele. Diferente da aparência de meu irmão biológico Lucas e da minha. Seu cabelo volumoso, cacheado e escuro não se parecia em nada com os nossos poucos fios descorados e escorridos. Nem que eu ficasse um ano inteiro tomando sol não conseguiria ficar com a pele tão morena quanto a dele. Maria contou que ele era descendente de negros e índios. Imaginei seus avós caçando com arco e flecha como nos desenhos que eu pintava na escola no Dia do Índio.
Não tive tempo de prosseguir com minhas imaginações. Saímos rapidamente do aeroporto noite adentro andando em direção ao carro no estacionamento. Pedro precisava descansar. Cada vez que ouvia sua tosse, meu coração acelerava. Fiquei assustada com seu estado. Parecia estar muito doente.
Aquele momento ainda permanece em minha memória. Acalentado, embalado, com todo o cuidado, dia após dia, não por saudosismo ou melancolia. Simplesmente por carinho e respeito. Essas coisas a gente não esquece facilmente. Aquela noite mudou minha vida.
Na verdade, mudou a vida de toda minha família e também a vida daquele que chegou numa cegonha a jato. Chegou para ficar. Foi o dia em que um novo começo foi traçado e todo meu futuro mudou. Tomou um novo caminho, um novo rumo. Muito do que sou hoje devo àquilo que considero como uma das melhores experiências que já me ocorreu. Recebi de presente uma lição de vida real, que estaria sempre ali, bem diante de meus olhos e de onde iria tirar inspiração para cada dia, para todos os que meu futuro ainda me reserve.
(continua no livro...)
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Uma Luta Pela Vida - Lia Persona Em uma "Luta pela Vida" Lia Persona compartilha suas emoções e memórias como irmã e enfermeira de seu irmão adotivo portador de paralisia cerebral. A autora intercala seu passado com seu presente; história com realidade; a luta de seu irmão pela vida, com a luta de seus pacientes por suas vidas. Concorrendo com mais de 650 obras inscritas, esse romance baseado em fatos reais, foi vencedor do Concurso Literário Anjos de Branco e escolhido por uma comissão formada pelos escritores Antonio Olinto, José Louzeiro e Arnaldo Niskier da Academia Brasileira de Letras. A primeira edição de "Uma Luta pela Vida" foi publicada como parte da Coleção Anjos de Branco que inclui os autores Antonio Olinto, José Louzeiro, Helena Parente Cunha, Carlos Nejar, Arnaldo Niskier, Marcos Santarrita, Patch Adams e Maureen Mylander. Lia persona é enfermeira formada pela Unicamp e atualmente reside com seu marido e seu filho nos Estados Unidos. Se estiver interessado em entrar em contato com a autora envie seu email para nurselia@yahoo.com.br |
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