03/06/2010

Personal coach

Não sei o que meu pai faria sem mim. Agora inventou mais uma: me contratou para personal coach. Chique, né? De vez em quando ele costuma fazer caminhada. Bem, vamos ser honestos: de vez em nunca. A caminhada dele é igual ao regime, sempre promete começar na próxima semana. Agora que a prefeitura construiu um local para caminhadas, ele já ficou sem uma de suas desculpas.


O lugar é bacana, é uma espécie de parque. Já ouviu falar do Central Park de Nova Iorque? Pois é, não tem nada a ver. Deu para imaginar? Então é isso mesmo, o parque é pequenininho e a maior dificuldade para quem caminha lá é que os caminhos não são muito longos e você acaba sempre reencontrando aquela pessoa que cumprimentou há três minutos. Aí fica aquele negócio de olhar para o chão, o céu, conferir se tem alguma chamada no celular. Tem até gente que olha o relógio para disfarçar e percebe que nem relógio tem.

Há também as pessoas que você encontra lá uma vez só e nunca mais vai encontrar. São as mais produzidas, geralmente senhoras na terceira ou quarta idade que tomaram um banho de butique antes da caminhada. Tudo é novo: a roupa, o tênis, o cabelo. O resto é igual. Sabe aquele tênis que ainda está com a etiqueta? Isso mesmo, é de gente que vai caminhar só uma vez e guardar. Tá cheio de gente que faz isso, não só com o tênis, mas também com a bicicleta, a raquete de tênis, a esteira e aqueles duzentos tipos de aparelhos que são vendidos nos intervalos da TV.

Mas o que tudo isso tem a ver com meu novo trabalho de personal coach? É que meu pai descobriu que me levando passear lá ele pode ficar menos tempo caminhando. É que não é a mesma coisa caminhar sozinho e caminhar empurrando uma cadeira de rodas como se fosse um taxista de riquixá que empurra em lugar de puxar. Precisa só ver o quanto ele suou. Eu não senti nada.

Fica aí a idéia. Se você conhece algum portador de deficiência, inclua essa pessoa em seus exercícios. Você vai matar dois coelhos com uma cajadada: vai perder uns quilinhos e ao mesmo tempo levar para passear alguém que às vezes tem poucas oportunidades de sair de casa. Só um conselho: encha os pneus da cadeira se não quiser esvaziar os da barriga muito depressa.

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