22/01/2009

Meu pequeno polegar

Meus primeiros dias na nova família foram passados como eu já vivia antes: deitado numa cama e batendo uma mão na outra, e a outra sob o queixo, num movimento que mais parecia um espasmo. Mas aquela folga estava para acabar. Alguém decidiu que eu iria aprender a segurar.'

Foi quando arranjaram um chocalho para mim e colocaram em minha mão. Uma vez, duas vezes, três vezes, mil vezes, sei lá! Demorou mas eu entendi que se segurasse aquilo, seria capaz de produzir um som interessante que me distraía daquela vida monótona.

Foi assim que aprendi a segurar e o resto da família aprendeu a conviver com o barulho do chocalho horas seguidas. Eu sou assim. Uma vez que comece a fazer alguma coisa, vou repetindo sempre o mesmo movimento ou som até alguém mandar parar. Tenho um comportamento metódico que deve ser conseqüência de meus problemas.

Esqueci-me de dizer que não seguro as coisas como todo mundo. A paralisia cerebral deixa algumas seqüelas engraçadas, como a que acontece com o polegar. Imagine o guidão de uma bicicleta. Imaginou? Agora pense como você o segura. Pensou? Ok, quatro dedos ficam sobre o guidão e o dedão, o polegar, dá a volta em sentido contrário, né?

Pois é assim que todo mundo segura as coisas, sempre tendo o dedão como o cara que é do contra. Se os quatro dedos vão numa direção, o dedão vai na outra. Assim se opondo, ele faz a mão se fechar como um gancho, bem firme. Eu tinha que ser diferente! Meu dedão é o maior companheiro dos outros dedos, por isso se eu segurasse um guidão -- o que não faço porque não sei andar de bicicleta -- você veria meus quatro dedos sobre o guidão e o polegar também. Resumindo, eu acabo segurando só com os quatro.

Tem mais coisas que só eu sei fazer e você não, mas acho que esta já lhe dá uma idéia de minhas diferenças. Até hoje ninguém descobriu exatamente o que aconteceu comigo. Pensavam que fosse rubéola em minha mãe natural durante a gravidez, mas parece que nem rubéola consegue fazer tanto estrago. Deve ser genético, é o que ouço dizer. Será que sou transgênico?! Era só o que faltava!

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