Mas onde foi mesmo que parei minha história antes de falar do cachorro Max? Ah! O marido de Maria, advogado, estava cuidando de minha adoção para meus novos pais que moravam na cidade grande. E foi isso o que ele fez, di-rei-ti-nho!
Mas, sabe como é, a justiça não é apenas cega, ela é leeeeennnntaaaaaa! O juiz estava super ocupado e não podia cuidar de meu caso naquele mês. Se eu podia esperar? Claro que sim. Só que ao invés de uma nova certidão de nascimento ele teria que assinar um atestado de óbito. Porque eu já estava mais pra lá do que pra cá, entende?
Aí a Maria, que não era nem boba nem nada, foi até o barraco onde eu morava, pediu permissão para minha mãe e me levou até o fórum da cidade. Deu um jeitinho de ir entrando até chegar ao juiz e dizer: "Eu até poderia esperar o próximo mês, mas ele não". Fez isso mostrando minha barriga, minhas perninhas e... bem, eu não era nenhum bebê johnson não.
Não deu outra. O juiz resolveu tudo rapidinho. Não marcou nenhum impedimento. E Maria me levou para a casa dela correndo. Ganhei um banho e acho que foi meu primeiro em quatro anos de vida. Mas não adiantou. Eu estava com um mau cheiro de espantar qualquer um. Ela precisou abrir toda a casa para ventilar. Também pudera, quatro anos numa cama me borrando todo sem nenhuma higiene, fazendo um xixi que era quase sólido de tão pouca água que me davam, e nada de banho!
Maria fez de tudo para eu ficar cheirosinho, mas levaria tempo até isso acontecer, porque meu hálito ainda era de jacaré. Ainda hoje eu tenho mau hálito, apesar de minha nova família escovar meus dentes direitinho e me dar água de hora em hora. Será que foi alguma meia que engoli quando criança?
Brincadeira. Mas o que não é brincadeira, é que tem muita criança por aí vivendo assim. Sem higiene, sem alimentação adequada, sem cuidados médicos e, principalmente, sem amor. Eu sei que tive uma mãe, mas hoje não me lembro dela. Se ela me amava? Acho que sim, mas não tinha nem tempo nem cabeça para cuidar de uma criança como eu.
Mas nem imagino quem tenha sido meu pai. Já pensou? Alguém que um dia colocou um filhinho simpático como eu neste mundo e nunca voltou para conhecê-lo?
09/01/2009
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