Hoje visitei um blog muito legal chamado Marina on Wheels. Ali a Marina fala de suas dificuldades com as pessoas deficientes. Deficientes em simancol. Sacumé, aquelas que andam com as duas pernas mas não sabem se mancar. Ela contou de um garçom que, no restaurante, perguntava para a mãe dela o que a Marina ia comer!
Não, a Marina não é um bebê, mas uma garota de vinte anos super inteligente que por uma circunstância precisa usar cadeira de rodas para se locomover. Alguns usam bengalas porque as pernas não são firmes, outros usam óculos para enxergar, outros, obturações para mastigar ou alguma prótese ou parafuso para manter os ossos no lugar. Além dos que usam automóveis para correr, pés-de-pato para nadar, snorkel para mergulhar ou aviões para voar. Por que? Por não terem nascido com pernas de gazela, nadadeiras ou guelras de peixes, ou asas de águia.
Então a Marina, assim como eu e muita gente, usa cadeira de rodas para se locomover, e tem gente que não percebe que somos pessoas perfeitamente normais, que pensam, entendem, amam, se comunicam ou se locomovem. Só que de maneiras diferentes.
Acontece comigo também. É claro que por eu não saber falar, o garçom tem mesmo que perguntar para quem estiver comigo. Tudo bem. O chato é quando encontro pessoas que sentem repúdio. Fazem aquela cara feia, uma mistura de espanto, nojo e medo. Ah! Aí eu fico chateado! Uma vez aconteceu em um supermercado.
Eu era pequenininho e ainda não andava numa cadeira de rodas, mas num desses carrinhos de bebê de armar tipo guarda-chuvas. Estávamos eu, meu pai e meus dois irmãozinhos. Como eu não tenho o que fazer costumo ficar me contorcendo um pouquinho, balançando para frente e para trás ou fazendo uns sons do tipo "Uh!" "Uh!" "Uh!". Ajuda a passar o tempo, mas tem gente que estranha.
Uma madame, toda cheia de brincos, colares e pulseiras e muuuiiiiito perfumada, assustou-se comigo. Ela vinha pelo corredor do supermercado e, quando me viu, passou ao largo, o mais longe que podia, quase derrubando as latas da gôndola, como se eu tivesse alguma doença contagiosa. E fez cara de nojo, imagine só!
Papai percebeu e, junto com meus irmãozinhos, traçou um plano. Foi então que - veja que coincidência - em todos os lugares onde a madame parava para colocar alguma coisa no carrinho de compras, lá estávamos nós bem ao lado dela olhando algum produto na gôndola com a maior cara de sonso! Foi muito divertido. Eh! eh! Parecia até brincadeira de pegar, para desespero da madame que partia em disparada chacoalhando seus badulaques.
Vou colar aqui algo que encontrei no site da Marina on Wheels, que achei muito legal. Pode servir para quem tem dificuldades para tratar com pessoas em cadeiras de rodas:
. Minhas pernas não funcionam, por isso tenho uma cadeira. Para mim ela é uma extensão do meu corpo, por isso não me empurre sem que eu peça nem se apóie ou mexa nela pois ela é o meu corpo.
. Não fique me "encarando", se tiver curiosidade de saber sobre minha deficiência, pergunte. Eu me sinto bem em explicar pois o conhecimento diminui o preconceito.
. Eu vejo as coisas e pessoas de maneira diferente de você porque vivo sentado. Quando estiver conversando comigo por algum tempo, tente sentar-se também, para que eu não tenha que ficar olhando para cima o tempo todo.
. Se não puder sentar, evite conversar comigo ficando atrás de mim. É importante para mim que você esteja no meu campo de visão.
. Fale sobre qualquer assunto comigo, seja natural. Mesmo que eu não seja fisicamente igual a você, entendo de assuntos variados exatamente como você. Fale sobre corridas, caminhadas, passeios na areia da praia, dança... eu falo dessas coisas também.
15/01/2009
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