16/01/2009

Pra nao jogar conversa fora

A irmã de um portador de necessidades especiais enviou um comentário sobre este blog e meu pai até enviou um e-mail para ela agradecendo e explicando um pouco do meu funcionamento nessa coisa de comunicação. É meio complicado, mas acho que vou conseguir repetir aqui o que papai contou para ela.

Ele disse que eu não sei falar. Bem, pelo menos papai pensa assim, mas a verdade é que eu fico na minha. Ele explicou também que minha comunicação com a família é basicamente por meio de expressão corporal. Lá em casa todo mundo sabe que quando eu faço um "Aaaaaa" é porque quero água.

"Antá" é a palavra que uso para pedir para cantar, algo que aprendi com uma senhora que trabalhou em casa. Ela ficava cantando "Parabéns prá você" e "Atirei um pau no gato" para mim o dia todo enquanto limpava a casa, e quando ela parava eu dizia "Antá! Antá!". Veja bem que tem um acento no "á", senão vai ficar "anta", né?

Acho que este é quase todo o meu vocabulário por palavras. Como sou meio preguiçoso, resolvi botar a família que adotei para trabalhar e eles tiveram que aprender a ler minhas expressões, estado de humor, os gestos, tudo para entenderem o que quero dizer. Depois de 17 anos nesta família -- eu cheguei quando estava com quatro anos -- até que eles já ficaram bem craques nisso. Ao contrário do que eu pensava, minha família até que consegue aprender as coisas.

Mas eu gosto mesmo é de uma boa conversa, de pessoas que ficam falando comigo. Geralmente conversam comigo enquanto eu tomo banho. É uma conversa banal, do tipo, "Pedro, cadê a Lia? Ué, a Lia não veio hoje? Então o que você vai fazer quando o Lucas chegar?" A conversa não tem muitos objetivos além de mostrar para mim que tem alguém interessado em mim. Por isso eu respondo do jeito que posso, com um som parecido com "Dá!".

Se você quiser conversar comigo, a entonação também é importante. Por exemplo, papai costuma dar uma entonação de desconfiança e falar coisas do tipo "Pedro, você está me enganando, hein? Você está me enrolando, heim garoto?". Aí eu percebo que ele está para brincadeira pelo tom da conversa e caio na gargalhada.

É verdade, eu entendo quando alguém está bravo, brincando, falando com sarcasmo e coisas assim. Não me pergunte como, mas eu sei. Alguém disse que a gente se comunica até pela pele. Quando fico sem tomar banho sou mais enfático neste sentido.

Eu também fico muito contente quando, após o banho, alguém diz que estou bonito, que o cabelo ficou lindo, que estou cheiroso e elogios assim. Eu sei que às vezes eles estão só me enrolando, porque a roupa não passa de um pijama, quem cortou o cabelo deixou alguma falha ou nem colocaram perfume. Mas eu faço de conta que caí na conversa só para minha família ficar contente.

Então, minha sugestão com tudo isso é que você procure conversar com pessoas que parecem não entender. Converse mesmo assim. Crianças com síndrome de down, paralisia cerebral ou até em coma. No livro "Uma luta pela vida" que minha irmã escreveu ela conta algo que aconteceu com meu avô quando estava em coma e minha avó começou a cantar um hino lá dentro, na UTI. A reação dele e de outros pacientes foi tão positiva que até o médico disse para ela não parar de cantar.

Não vou contar a história toda senão você não compra o livro de minha irmã para ler. Se ganho porcentagem? Sabe que ainda não pensei nisso...? Foi bom você ter dado a idéia. Vou procurar um advogado!

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