Bem, ano novo, vida nova, mas minha história é a mesma velha história, e preciso continuar. Onde foi que parei? Ah! Sim! Eu tinha chegado ao meu novo lar. Em meus primeiros dias ali eu fui dormir na sala, digo, fui tossir na sala ao lado de meu pai. Por que será que ele saía para trabalhar de manhã com aquela cara amassada e olheiras enormes?!
Logo Maria e seu filho foram embora e eu ganhei meu lugar no quarto entre meus novos irmãozinhos, Lia e Lucas. Meu pai mandou fazer uma cama com rodinhas que ficava escondida embaixo da cama de minha irmã e saía de lá para eu dormir. Assim eu não corria o risco de cair.
Minha primeira manhã em São Paulo foi no consultório de uma pediatra que era prima de minha nova mãe. Cheguei lá bem vestidinho e limpinho, mas ainda não muito cheiroso. A médica pediu que tirassem minha roupa enquanto ela preparava suas coisas para o exame. Aí aconteceu.
Quando ela se virou e me viu peladinho deitado ali, ao invés de dar dois passos para a frente ela deu dois passos para trás. Causei um choque. A médica estava acostumada com crianças desnutridas, mas eu fui demais até para ela. Também, não era por menos. Você me vê nas fotos deste blog após um belo tratamento, mas eu cheguei bem estragadinho.
Já viu aquelas fotos daqueles garotinhos na África, que têm uma cabeça e uma barriga enormes espetadas por braços e pernas que mais parecem palitos de dente em xuxu? Eu era assim, mas ninguém em sã consciência me chamaria de "xuxuzinho". Eu estava horrível!
Minha doença? Fome, maus tratos, falta de amor e de carinho. Coisas que podem ser resolvidas com muito pouco, mas que pouca gente acha que pode resolver. Muita gente reclama do governo, disso e daquilo, mas fazer algo que é bom, neca! Felizmente isso está mudando e tem até gente criando empresas para resolver esses problemas. Chamam de ONG, Organização Não Governamental, e tem de todo tipo, desde cuidar de crianças como eu até preservar o meio-ambiente.
Você está engajado em alguma coisa assim? Nem todo mundo precisa adotar uma criança, e às vezes é melhor não fazer uma coisa para a qual você não leva jeito. Mas existem mil maneiras de ajudar quem precisa. Pode ser uma velhinha no asilo que só quer meia hora de conversa. Alguém doente que vai ficar contente com uma visitinha. Um deficiente físico precisando de uma cadeira de rodas. Ah! Isso me fez lembrar meu novo avô, que agora já mora no Céu. Vou contar o que ele fez da próxima vez.
Mas por enquanto, anote aí em seu caderninho que hoje mesmo você vai procurar alguma coisinha, ainda que pequenininha, que irá facilitar a vida de quem sofre. Há um antigo ditado que diz que uma jornada de mil quilômetros começa com um passo. Um ditado mais recente diz que começa com um pneu furado, mas é do antigo que quero falar. Por pouco que a gente faça por alguém, já é alguma coisa.
12/01/2009
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