17/01/2009

O fim da mamata

A primeira coisa que meus novos pais precisaram me ensinar foi disciplina. Aos quatro anos de idade, eu era um bichinho do mato e trazia uma porção de vícios por causa do abandono. Por exemplo, não gostava que tocassem em mim. Se alguém punha a mão em mim eu dava uns guinchos como gato bravo e vomitava. Era minha defesa.

Também pudera, né? Como iria ser diferente para alguém que nunca teve carinho e viveu largado numa cama imunda com a perna amarrada com uma cordinha para não cair? A médica que me examinou disse que até a formação de meu crânio -- chato atrás -- era de alguém que nunca saiu da posição de costas por todos aqueles anos. E a curvatura de minha espinha fazia de mim uma verdadeira gangorra, se deitado numa superfície plana. A cama onde me deixaram nos primeiros quatro anos de minha vida devia estar afundada no meio. Até hoje sou meio corcunda.

Tem mais: eu não usava as mãos para segurar, só para ficar com elas encolhidas sob o queixo, batendo uma delas no queixo o tempo todo como se estivesse em transe e fizesse aquilo por espasmo. Quer mais? Eu também não ficava sentado. Pelo jeito nunca tinham me colocado nesta posição, pois era só alguém me colocar sentado e eu gritava, guinchava, me esticava todo para voltar à posição horizontal e -- para desespero de meus novos pais -- vomitava.

Depois de tentarem de tudo, eles resolveram ir pelo caminho natural. Decidiram que me criariam exatamente da mesma maneira que criaram meus irmãozinhos. Quando fizesse birra -- e sei fazer birra! -- levaria umas palmadinhas como qualquer criança amada. Eu sei que para alguns pais isso pode parecer estranho, mas meus pais criaram a mim e a meus irmãozinhos assim e funcionou direitinho. Eles seguiram o que diz a Bíblia em Provérbios 29:15: "A vara e a repreensão dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma, envergonha a sua mãe."

É claro que ninguém iria me espancar com uma vara ou machucar. Longe deles tal idéia. Mas iriam seguir um velho ditado que diz que o caminho mais curto para o cérebro de uma criança passa pelo bumbum. Esse tipo de educação com disciplina eles aprenderam com um livro de um psicólogo chamado James Dobson, "Ouse Disciplinar". Funcionou para meus irmãos e funcionaria para mim.

Meus pais decidiram que não teriam pena de mim, ninguém em casa me chamaria de coitado ou me consideraria diferente. É claro que respeitariam minhas limitações, mas eu seria criado como meus dois irmãos. Ninguém iria fazer drama a meu respeito, ou me esconder da sociedade como fazem muitas famílias que têm filhos especiais. Famílias que têm medo de incomodar os outros ou até vergonha de mostrar o filho que têm. Se existe isso? Muito! Mas vou contar da próxima vez.

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